O Efeito da Sombra

Notícias da Fernanda • Novembro 11, 2018

A sombra é aquilo que não queremos que os outros saibam. São as coisas que ocultamos, coisas sobre as quais mentimos, não somente aos outros, mas a nós mesmos também. É esse lado obscuro, intrínseco, dentro de nós, que cada um de nós tenta esconder. Nos foi ensinado desde muito cedo que esses são aspectos aceitáveis para quem somos.

A sombra se mostra de muitas maneiras como quando assinamos um cheque sem fundo, bebendo demais, mentindo na declaração do imposto de renda, exagerando nos gastos, traindo a confiança familiar, comendo um bolo na metade da noite após três dias de dieta e provação, quando gritamos com nossos filhos, abusamos verbalmente dos nossos parceiros, após sermos uma boa pessoa e trabalharmos o dia inteiro, quando navegamos na internet para visitar sites pornográficos enquanto o seu parceiro faz a janta, quando enganamos nosso parceiro enquanto ele trabalha duro para prover a sua família com todos os prazeres e confortos ou quando roubamos as ideias de nossos colegas de trabalho e afirmamos que são nossas.

A sombra é feita dos pensamentos, emoções e impulsos que achamos dolorosos demais, constrangedores ou desagradáveis para aceitar. Portanto, ao invés de lidarmos com elas, nós as reprimimos. Negamos nossas sombras individuais.

Todos nós somos afetados pela sombra coletiva em mais maneiras do que podemos imaginar. A sombra coletiva se manifesta como o mal, a guerra, o terrorismo, na injustiça social e nas desigualdades do status econômico.

O que chamamos de “o mal do mundo” é uma manifestação de nossa sombra coletiva, que se tornou patológica, reprimida, enraivecida e ignorada.  Pessoas que expressam uma moralidade auto repressora, são normalmente as que têm uma sombra mais obscura e profunda.

O nascimento de nossa sombra ocorreu quando ainda éramos muito jovens, antes de nossa mente lógica ter se desenvolvido o suficiente para filtrar as mensagens que recebemos de nossos pais, professores, cuidadores e do mundo em geral. Estas mensagens entram em nosso inconsciente como um vírus de computador, alterando a percepção de nós mesmos e ferindo nosso saudável senso de ego. Quando suprimos qualquer uma destas qualidades, vivemos na negação do que somos.

Nenhum de nós gosta de admitir que temos falhas e inseguranças. E para ocultar essas falhas, criamos uma “persona” numa idade muito jovem. Assim nós nos embrulhamos a nós mesmos num novo papel que criamos, que acreditamos que nos trará o amor, a atenção e a aceitação que tanto desejamos. Nós criamos “personas” para ter nosso espaço. A maioria de nós tem uma vida pública e uma vida secreta.

Nós somos o microcosmo e o macrocosmo. Isso significa que cada aspecto que podemos ver nos outros, existe dentro de nós. Nós temos todas as emoções ou características humanas, sejam elas ativas ou adormecidas, sejam elas conscientes ou inconscientes. Não há nada que possamos reconhecer ou conceber que já não sejamos. Somos tudo aquilo que consideramos bom, assim como aquilo que consideramos mau.

Como poderíamos conhecer a coragem sem nunca ter conhecido o medo? Como poderíamos conhecer a felicidade, sem nunca ter conhecido a tristeza? Como poderíamos conhecer a luz, sem nunca ter conhecido a escuridão? Toda a vida se baseia num sistema de códigos desses pares opostos.

Ocorre que ao invés de confrontarmos nossa própria obscuridade, projetamos esses aspectos não desejados nos outros. Seja o que for que julgamos ou condenamos nos outros, é no final das contas, uma parte desonrada e rejeitada de nós. Sombra é a pessoa que preferimos não ser.

Em lugar de tratar de convencer você de que não é todas essas coisas negativas e encorajá-lo a pensar em coisas boas e positivas, o trabalho com a sombra o convida a entrar na sombra, e estar com aquilo ao qual você resiste. Porque aquilo ao qual você resiste, persiste. Se você não se ocupa com sua sombra, ela se ocupará com você. Ao ignorá-la, você pode implodir, ao invés de explodir.

A maioria das pessoas é consciente de que o que comem e bebem afetas seus níveis de toxidez, mas não se dão conta de que é o que pensam e as emoções que tem sentido durante anos, que são realmente os mais tóxicos.

É fácil amar a si mesmo quando você acorda se sentindo forte e valioso, tendo dinheiro no banco e se sentindo bem, mas como amar a si mesmo quando você se sente quebrado, ferido ou abusado? Temos que resolver as emoções não digeridas que estão enterradas em nossos corpos, e alojam o estresse em nossas mentes. Temos que desenterrar, reconhecer e abraçar todas as partes de nós que nos causaram tanta dor. E no momento em que o fazemos, a luz de nossa consciência iniciará um processo de transformação.

Perguntas que precisamos ser respondidas nesse processo são: o que você ganha se apegando a dor? O que você evita se apegando a dor? O que evitamos é o nosso grande desafio, que é vir a ser quem podemos ser a fim de servir ao mundo. A medida que atravessamos nossas sombras, podemos recuperar nossa luz.

Nós, seres humanos, inconscientemente ocultamos nosso ouro interior debaixo de uma capa de barro. Tudo que temos de fazer para descobrir a luz de nosso ouro é ter a coragem de descascar nossa casca externa, pedaço por pedaço. A única forma de enxergar-se a si mesmo é olhar seu lado luminoso e seu lado sombrio. E… abraçá-los.

Se você quer ter autêntica paz de espírito, criatividade, bondade, compaixão, alegria, então você precisa entender a sua sombra e estar de bem com ela. Nossa luz mais brilhante poderá brilhar somente quando aceitarmos nossa obscuridade.

Todas as experiências são o resultado do contrate entre a luz e a sombra, prazer e dor, acima e abaixo, passado e futuro. Para que exista manifestação, necessitamos de energias opostas. Você necessita dos seus inimigos para ser quem é. A alma humana é ao mesmo tempo divina e diabólica, sagrada e profana, pecadora e santa. Tradições de sabedoria oriental dizem o mesmo, o pecador e o santo são faces da mesma moeda. Uma vez que você entende isso, descobrirá que ter uma sombra é normal.

No reconhecimento da sombra se faz necessário o autoperdão, honrar e respeitar a própria história, reconhecer que fez o melhor que pôde e livrar-se da culpa, assumindo a responsabilidade com o futuro. O autoperdão liberta. Permite que a pessoa siga em frente. Ainda com sua sombra, mas agora a reconhecendo como parte integrante de todo o seu ser.